Oyó adentra a Bahia
Vindo do reino de Oyó, chega à Bahia o sacerdote de Xangô e babalaô nigeriano Bámgbósé Obítikó, trazendo em seu ori o fundamento do adòsú.
Com o axé de Xangô, o patriarca Bámgbósé, que aqui adota o nome de Rodolpho Martins de Andrade, ajuda a estabelecer as bases litúrgicas para a organização do culto a Orixá, realizando rituais propiciadores do axé do primeiro terreiro ketu brasileiro, o Iyá Omin Àse Aiyra Intilé, depois chamado de Ilê Àse Iyá Nassô, a atual Casa Branca do Engenho velho, onde Bámgbósé é até hoje reverenciado como "Essá Obítíkó", juntamente com Iyá Nassô, Iyá Detá, Iyá Kalá e Obá Sanyá.
A herdeira
Maria Júlia Martins de Andrade (Xangô Biyi) nasce no ano de 1856, na Bahia. Filha mais velha de Bámgbósé Obítikó, aprende com o pai os segredos de culto a Orixá e tem importantíssimo papel na transmissão dos laços sagrados em solo nacional, tornando-se grande iyalorixá e a matriarca da Família Bámgbósé no Brasil.
Para além da Bahia
Ao lado do amigo e babalaô Obá Sanyá, Bámgbósé vai a Pernambuco, em 1872. É o início das viagens de Bámgbósé entre províncias brasileiras e à África, criando a rede de apoio sociorreligioso que ajudará a estruturar importantes terreiros do Brasil.
Dentre outros exemplos, Bámgbósé e Obá Sanyá realizam rituais necessários à fundação do Ilê Obagunté (Sítio de Pai Adão), primeiro terreiro nagô de Pernambuco. E participam, em 1886, da fundação do Ilê Axé Opô Afonjá do Rio de Janeiro.
Nos passos do pai
Aos 17 anos, Iyá Maria Júlia acompanha Bámgbósé Obítikó em viagem à Nigéria, a primeira de algumas travessias que realiza em vida. É também o primeiro retorno do pai ao reino de Oyó.
A viagem define os rumos do candomblé ketu baiano, pois Bámgbósé refaz sua rede de contatos transatlânticos e Iyá Júlia se casa com o babalaô Eduardo Américo de Souza (Ifaxesin), tendo seu rebento, o babalaô Felisberto Sowzer que, como veremos, terá grande influência religiosa no Brasil.
O primogênito
Primeiro filho de Iyá Maria Júlia. Primeiro neto do patriarca Bámgbósé Obítikó. Nasce em julho de 1877, na cidade de Lagos (Nigéria), o legendário babalaô Felisberto Américo Sowzer (Oguntosí), o Benzinho de Ogum.
Felisberto estuda em colégios ingleses. Faz diversas viagens entre Brasil e África. Adquire vasta cultura. E seguindo os passos do avô Bámgbósé e do pai, o também babalaô Eduardo Américo de Souza, se aprofunda nos segredos oraculares.
Babalaô tem mãe
Ao completar 25 anos, Felisberto Sowzer se fixa na capital baiana, após o episódio do "Fechamento dos Portos", no qual Iyá Júlia consegue interromper as travessias entre Salvador e Lagos, para que o filho permanecesse no país.
Benzinho, então, adquire imenso prestígio, sendo hoje apontado como responsável pela estrutura brasileira do sistema divinatório conhecido como Merindilogun, tal como é praticado no país pela matriz ketu. Na figura ao lado: inscrição presente na parede da casa de Benzinho em Salvador.
Ancestralidade é imortal
Em 1907, o jazigo de Bámgbósé Obítikó é depositado na capela mor da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no centro histórico de Salvador, honraria concedida a poucos na época, demonstrando sua enorme reputação na sociedade baiana.
Torna-se, a partir de então, um grande ancestral da linhagem religiosa iniciada com o primeiro terreiro nagô-ketu do país, o Iyá Omin Àse Aiyra Intilé. E também de todos que, de uma forma ou de outra, aprenderam o culto a Xangô.
A Mãe dos Olhos D'água
Nasce em Salvador, no dia 07/08/1910, a filha de Oxum que se tornaria herdeira espiritual dos Bámgbósé na Bahia: Caetana Américo Sowzer, que logo recebe o nome de Lajuomim, a Mãe dos Olhos D'água.
Filha do babalaô Felisberto Sowzer, Iyá Caetana cresce no terreiro do pai, em Luís Anselmo, aprendendo os segredos legados à família desde seu bisavô e ficando também muito ligada à Casa Branca do Engenho Velho, onde goza de grande prestígio.
Nascido para a riqueza
A irmã de Iyá Caetana, Tertuliana Souza de Jesus (Tibúsè), representada na escultura à esquerda, dá à luz Air José Souza de Jesus, no dia 20/09/1940.
No ano seguinte, Iyá Caetana (escultura à direita, com o bebê no colo), pede à irmã permissão para criar o pequeno Aizinho, por não ter tido filhos. O menino passa então a viver com a tia, que aos 30 anos já era muito respeitada no meio religioso. Da Oxum de Iyá Caetana, Pai Air recebe o nome de Bisilolá: nascido para a riqueza.
Fundação do Ilê Lajuomim
No mesmo ano em que o sobrinho Aizinho fica aos seus cuidados (1941), a iyalorixá Caetana Bámgbósé Lajuomim funda o Ilê Lajuomim (Casa da Mãe dos Olhos D'água), terreiro em Salvador dedicado a Oxum, com a missão de levar adiante o culto a Xangô, herança ancestral de seu bisavô Bámgbósé Obítikó.
A partir de então, o prestígio de Iyá Caetana se estende para além da Casa Branca, tornando-se uma das maiores iyalorixás brasileiras.
Iniciação de Pai Air José
Em setembro de 1945, Aizinho é iniciado para o orixá Oxaguiã pelas mãos de Iyá Caetana, no Ilê Lajuomim, dando início à sua vida de iyawô.
Conforme Pai Air relata, sua infância até tal idade foi marcada por doenças e problemas na pele. De modo que muitas oferendas precisaram ser feitas ao orixá Omulu, para que este aceitasse a feitura-de-santo para Oxaguiã.
Fundação do Ilê Odô Ogê
O jovem babalorixá Pai Air José de Oxaguiã funda o Terreiro Pilão de Prata em 1961, juntamente com Iyá Caetana, que o conduz e orienta, dando continuidade à linhagem sanguínea e espiritual de grandes sacerdotes do Axé Bamboxê.
O terreiro, consagrado ao orixá Oxaguiã, herda a missão de zelar pelo culto ao orixá Xangô, assim como a Oxum, berço sagrado de Pai Air desde o Ilê Lajuomim.
Visitantes ilustres
Visita do africano Abimbola (ao centro) no início da década de 80. Conforme conta Pai Air, Iyá Caetana gostava de acolher visitantes africanos no Brasil, ilustres ou não. Principalmente nigerianos, sempre se comovendo com a língua e hábitos que lhe remetiam a seus ancestrais.
Até hoje, o próprio Pai Air, sempre que possível, realiza visitas a seus parentes da família Bamboxê na Nigéria.
25 anos do Ilê Odô Ogê
Comemoração dos 25 anos de fundação do Terreiro Pilão de Prata, em 1986.
Na ocasião, em fotografia histórica, três gerações da Família Bamboxê: à esquerda, Tertuliana Souza de Jesus (Tibúsè), mãe carnal de Pai Air e irmã carnal de Iyá Caetana. Ao centro, Pai Air José. E à direita, sua filha Andréa de Xangô.
Museu para Mãe Caetana
Em 1994, no Axexê de 1 ano de Iyá Caetana, que passara para o Orum em 31/10/1993, é inaugurado em sua homenagem o Memorial Lajuomim, museu que reúne objetos e instrumentos que pertenceram a esta grande iyalorixá de Oxum.
Na foto ao lado, da esquerda para a direita: Mãe Stela de Oxossi do Opô Ofonjá, Mae Carmem de Oxaguiã, Mãe Creuza de Nanã, Pai Air José e Mãe Haydee Paim Bamgbose.
Preservação do Axé Bamboxê
Em 1996, no Axexê de 3 anos de Iyá Caetana, é fundada a SPAB - Sociedade de Preservação do Àse Bámgbósé (Egbé Ìpamó Àse Bámgbósé Obítikó), posteriormente reconhecida como entidade de "utilidade pública", em 2003.
Saiba mais sobre a SPAB e sobre a história da Família Bámgbósé
clicando aqui.
Biblioteca Lajuomim
Mais uma homenagem à Iyalorixá Caetana Bámgbósé, em seu Axexê de 7 anos, com a inauguração da Biblioteca Lajuomim, em 04/11/2000.
O acervo conta com publicações sobre os cultos e tradições afrobrasileiras, algumas delas raras, além de pequenas esculturas com temáticas africanas.
Reconhecimento público
Iyá Caetana é novamente homenageada, desta vez com a inauguração da bela Praça Mãe Preta, em vasto terreno revitalizado, situado à exatamente frente do Terreiro Pilão de Prata, no dia 22/07/2004.
O evento é marcado pela presença de autoridades públicas e por homenagens de amigos, povo-de-santo e população local.
Terreiro tombado
Ainda em 2004, reconhecendo seu valor histórico e sua importância na manutenção das tradições culturais e religiosas afrobrasileiras, o Governo do Estado da Bahia, através do Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), decreta o tombamento do Terreiro Pilão de Prata, no dia 3 de novembro daquele ano.
Escolinha de Costura e Documentário em vídeo
No Axexê de 14 anos de Iyá Caetana, o Ilê Odô Ogê presta mais uma homenagem à inesquecível iyalorixá baiana, com a inauguração da Escola de Costura em sua sede.
Um filme, em forma de documentário, também é produzido com todo o requinte, contando com depoimentos da Família Bamboxê e de grandes personaldades do candomblé do Brasil.
Ilê cinquentenário
Os 50 anos do Terreiro Pilão de Prata foram comemorados em grande estilo, com um ciclo de festividades, debates, palestras, atividades e homenagens durante os dias 27, 28 e 29 de janeiro de 2011.
Figuras ilustres do meio acadêmico, autoridades públicas e personalidades do candomblé brasileiro abrilhantaram as comemorações do ilê.
Medalha a Pai Air
O ano de 2011 foi também marcado pela autorga da Medalha Zumbi dos Palmares ao babalorixá Air José de Oxaguiã, em solenidade na Câmara dos Vereadores de Salvador, no dia 25 de novembro.
Reconhecimento por sua trajetória no Candomblé e suas contribuições à manutenção dos laços afrobrasileiros.
Eterna Mãe Dedê
Em fevereiro de 2013, o dia 6 – número associado a Xangô – caiu em uma quarta-feira, dia da semana dedicado a Xangô.
Foi o dia da Festa de Xangô daquele ano no Terreiro Pilão de Prata.
Na antessala da Casa de Xangô, inaugurou-se o Memorial Oba Deyí , em homenagem à Iyalaxé Haidee Paim Bámgbósé, a querida Mãe Dedê de Xangô, que passara em 2011, deixando saudades no Ilê Odô Ogê e no Ilê Lajuomim.